
Escrever também é destrinchar o que queremos da história. Não sei se já tive alguma ideia que viesse praticamente pronta, me fale se você teve essa sorte.
Acho que Noites de Insônia foi meu livro que chegou mais perto disso, mas ele teve anos e anos de incubação no meu subconsciente. Creio que só “saiu rápido” por isso. Mesmo assim, há dois ou três spin-offs dele que me cercam sem nascer.
Além disso, sempre tem caminhos que se insinuam, mas não nos interessam, e outros que cavamos apenas para serem totalmente transformados depois. Às vezes, o leitor vai se aborrecer porque não perseguimos o coelho que lhe interessou, faz parte.
Aconteceu muito com Rainha de Dois Reinos. Está aí um livro que todo mundo quer alguma coisa dele que só não era o que eu desejava contar ou senti que desviaria muito do foco. Claro que concordo com algumas das críticas, mas isso é papo para outro dia. De toda forma, tenho orgulho dessa história.
O ponto é que o escritor descobre muito do que está fazendo no processo. A Fabiane Guimarães, que eu amo acompanhar, disse aqui:
A criação literária obedece a um tempo diferente, no qual você meio que vive ao contrário: primeiro recebe a mensagem, depois entende o sentido. Começa a caminhar para poder inventar o caminho. É o tempo andando em todas as direções.
Nesta edição da sua news, ela mostra que escreveu em um caderno: “Qual é a história, qual é, qual é?”. Achei meio engraçado, porque escritores podem criar coisas completamente diferentes e, no fim, serem todos o mesmo bicho.
Estou vivendo algo semelhante agora. Comecei o ano com o livro da Floresta, como chamei aqui. Senti que perdi esse coelho, então o mandei de volta para a incubação. Mergulhei em outra coisa, meio esquisita, diferente e igual a tudo que já fiz.
Cheguei em um momento que acreditei ter empacado, afundei no cotidiano para dar um tempo. Aí, do nada, me veio uma cena que faz todo o sentido e sei que precisa acontecer na trama. Essa história está vindo assim para mim, em peças soltas que vou encaixando.
Já sei alguns pontos que vou mudar na próxima versão dela. Na verdade, bem grandes, porém decidi que esse rascunho inicial vai ser uma escaleta robusta. Além dos ossos, vai ter uns músculos e vasos sanguíneos.
Talvez a gente só saiba de verdade o que o livro quer dizer quando ele está pronto, em um tipo de epifania tardia como se lembrar de uma palavra que estava na ponta da língua.
Você testa os passos, percebe que errou uma esquina, dá meia volta. Pode não chegar aonde pensou que iria, mas dar de cara com uma bela vista. Tenho me preocupado menos com temas ou mensagens a passar. O acaso tem seu espaço na descoberta, e a história já está lá à sua espera. Lembre-se de aproveitar sua jornada até ela.
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Por hoje é só
A história na qual estou mexendo no momento está um caos. Esse processo de edição vai ser interessante, digamos. Problema da minha futura eu. Ela deve estar me xingando de seu ponto no espaço-tempo.
Enfim, agradeço por continuar comigo nessa aventura.
Até a próxima 💜