Pode não parecer, mas nossos personagens têm muitas encarnações. Aquele que idealizamos não é o mesmo que vai parar na primeira versão do texto e é um eco muito distante do que chega na página final de uma história, quando ela está pronta e revisada.

Acredito que é fácil esquecer disso tudo, porque escrever não é um processo tão linear assim. Existem várias etapas, das mais práticas até as mais abstratas, que exigem a nossa atenção. Além disso, a verdade é que só descobrimos o que realmente queremos contar quando já estamos no meio dessa jornada.

Por exemplo, montar uma ficha de personagem é ótimo. Algumas pessoas fazem o básico do básico, outras esmiúçam cada mínimo detalhe possível. Entretanto, em ambos os casos, esse mesmo personagem não se concretiza até o colocarmos para interagir com o mundo no qual ele está inserido, nas suas ações perante os acontecimentos e em como ele trata aqueles que os rodeiam. Uma ficha pode estar linda, bela e plena, porém é importante revisá-la quando ela não condiz mais com aquele ser que, de repente, ganha vida.

Quem me acompanha sabe que eu estou revisando o meu próximo livro. Há algumas curiosidades que quero explicar melhor no lançamento, mas posso adiantar que uma delas é sobre como os protagonistas, Marcela e Rodrigo, são dois personagens bem antigos meus.

Eles começaram com outros nomes, também tinham personalidades diferentes. Admito que Marcela não mudou tanto, a sua essência permanece quase a mesma. Entretanto, Rodrigo era um moreno sarcástico de passado misterioso, com muito mais raiva do mundo. Percebi que a história ficaria pesada demais se ambos os protagonistas continuassem como eram, e eu não queria isso. Assim, Rodrigo foi, bem literalmente, para a terapia.

Rodrigo ainda tem o passado complicado dele, contudo se tornou um personagem mais interessante, com mais camadas. E, agora, faz muito mais sentido Marcela se apaixonar por ele. Talvez ainda exista no multiverso um lugar no qual eles tenham permanecido parecidos com aquela minha primeira ideia. Porém, essa é a versão favorita deles e a que desejo apresentar a vocês.

O meu livro ficou muito melhor quando abracei o que esses personagens queriam me dizer. Então deixo aqui o meu conselho: atente-se à direção pela qual os seus anseiam seguir, pois é o que essa encarnação deles precisa.

Encontrei esse trecho antigo em um caderno, versão na qual Marcela era um pouco mais velha, morava sozinha e tinha uma gata.

Eu estava arrumando o meu quarto por esses dias e esbarrei em um caderno antigo meu, com alguns poemas e rascunhos de cenas soltas. Em uma delas, estava Marcela, em uma de suas primeiras encarnações. Ela era um pouco mais velha, morava sozinha e tinha uma gata, que nem chegou a ganhar nome. Talvez eu estivesse pensando em fazer uma referência a “Bonequinha de Luxo”? Não sei, nem lembro mais. Mesmo assim, fiquei feliz por encontrar essa versão dela, ver o quão longe ela chegou (e ainda vai chegar).

Para quem não entendeu os meus garranchos na foto acima:

A gata miou de novo e a lambeu.

“Não vou, não.”

A gata continuou a miar. Marcela levantou, derrotada. Sem acender as luzes, ela foi até a cozinha, colocou comida para a gata e fez carinho até ela terminar de comer. Marcela sentou na sala, encarou o nada. Ela pensou em tudo que poderia fazer nessas horas de ócio, nessas horas de insônia. Então ela decidiu não fazer nada.

Por hoje é só

Já já vou lançar NdI, estou ansiosa para que vocês conheçam melhor Marcela e Rodrigo. Tenho certeza de que esse casal de implicantes vai conquistar vocês.

Como sempre, obrigada a todo mundo que me acompanha.

Até a próxima!

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