A edição de hoje é mais pessoal, meio fragmentada. Estou jogando no mundo porque para lidar com certos sentimentos é preciso soltá-los de alguma forma. Talvez alguém esteja passando por algo assim e se sinta menos só.

Desde que comecei a tomar os antidepressivos, meus sonhos têm sido bastante entediantes. Alguns literais inclusive. Queria ter espaço no quarto para mudar a posição da cama, logo sonhei com isso. Tudo era praticamente o mesmo no ambiente, apenas tinha uns metros a mais para colocar a cama onde preferisse.

Faz pouco mais de um ano de sonhos tediosos, quando sequer me lembro deles. Também sempre tive muitos pesadelos, que foram afetados por essa falta de criatividade. Sem mais monstros metafóricos, só me deparo com contas atrasadas, presentes que não saíram como eu queria ou erros em e-mails importantes.

Nunca estive mais saudável mentalmente. Brinquei com uma amiga que era melhor ter sonhos sem graça do que ter pesadelos. Às vezes, me pergunto se acredito nisso mesmo.

Há algo de insuportável na realidade. Eu tirava muita inspiração desses lugares bizarros que minha mente inquieta formulava, dessa imaginação em pedra bruta e selvagem.

Um dos meus gatos adoeceu. Ele tem FELV, então vivemos nesta sombra. Anti-inflamatório, antibiótico, suplemento, analgésico, talvez algo para abrir o apetite. Não é a primeira vez que passo por esse rodeio. Aprendi a dar remédios tal qual um veterinário. Puxa a cabecinha para trás, enfia goela adentro, dá um pouco de água na seringa para ajudar.

Fiquei arrasada, descrente, quando perdi outros para a FELV também. Aí um teste. Estou forte o suficiente para lidar com os pensamentos apocalípticos? Para enfrentar esse luto sem pensar que não fiz o bastante para salvá-lo? Se não agora, depois.

A Morte vem para todos. Faz parte da Vida. No livro que estou escrevendo no momento, o da Floresta, elas são irmãs gêmeas.

Além delas, há Mistério, Caos e Destino. Nenhum é o protagonista, mas um deles chegou a ser mencionado em A Rainha de Dois Reinos por outro nome; como um easter egg quase para mim mesma. Faço isso, planto sementes sem saber quando vou colher, se é que vou.

Quero me livrar do remédio ao mesmo tempo em que tenho medo de fazer isso. Já conversei com o psiquiatra, começamos o desmame. Ao invés de dois comprimidos, somente um. Não vi muita diferença ainda.

Tenho andado insone, sentindo um descompasso de energia entre carne e mente. O corpo está vivo, olhos bem abertos, cheio de vontades. A cabeça, atordoada. Parece que não faço nada direito. Só escrever, sempre escrever.

Por hoje é só

Faço 30 anos no dia 24 de março. A única coisa em que pensei foi encomendar um bolo caro. Morango com chocolate, meu favorito.

Até a próxima 💜

Leia também

No posts found